segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Um leilão gaúcho



Escrevi o artigo abaixo no ano de 1994 ao iniciar a Campanha para a restauração do Grande Órgão da Catedral. O inicio foi tímido... Eu, todos os dias fazia apelo em minha coluna “A Palavra de Padre” publicada no jornal “A Província Do Pará”. O revdo. Pe. Luciano Bambrilla da Paróquia de Nazaré, certa vez disse-me: “Mude de disco; você só escreve sobre Órgão.” Eu refutei: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” e furou mesmo. A campanha foi repetida sim, mas O Grande Órgão está aí, altaneiro na Catedral para grandeza dos paraenses. A campanha foi vitoriosa. A inauguração aconteceu dois anos depois, no ano de 1996, dia dedicado ao Sagrado Coração de Jesus.
 Eis o que eu escrevi logo no início: Foi no Rio Grande do Sul, em noite enluarada, que eu assisti leilão televisionado de gado eqüino. Tratava-se de uma linda égua, faceira e polida. O leiloeiro não se cansava de propagá-la. Bonito animal. Eu jamais havia assistido coisa semelhante mesmo porque, leilões de gado vacum ou eqüino, não interessam sacerdotes.
 A técnica do leiloeiro gritava um, dois, em cadência ritmada de semifinal a provocar lances outros e seguidos. Finalmente alguém a arrematou ao valor de R$ 750.000,00 (setecentos e cinqüenta mil reais). Eu fiquei abismado enquanto os presentes elogiavam a compra, pois entendiam de éguas.
 Apresento agora outro exemplo diferente; um jurista procurou outro jurista levando lista solicitando auxilio. Esta a resposta: volte na próxima semana.Ele voltou e nada. Na terceira semana, o jurista abriu a carteira e ofereceu R$ 5,00 (cinco reais). O primeiro jurista não recebeu a doação dizendo-lhe Com esta, nem vais encher o pneu do teu carro, pois eles cobram seis. Amigo, o órgão embarcará para a França em containeres. Dever-se-ão importar técnicos para o desmonte, com passagens e frete (ida e volta). O órgão requer especialização notória.
 Outro exemplo foi o do visitante que afirmara dizendo do revdo. Pastor Firmino: “Daqui há anos, o Brasil será um pais protestante”. Eu não posso afirmar se isto foi verdade, pois me fundamento unicamente na informação. No entanto, eu concordo com o Reverendo Pastor. Inegavelmente, os evangélicos são generosos e por isso resolvem rápido os problemas do culto. Eu já pensei em pedir licença ao Senhor Arcebispo para deles aprender a técnica de pedir. Fico apreensivo porque o nosso Grande Órgão poderá desabar lá de cima. Seria uma calamidade. Em Belém existem católicos de posse, mas eles dificilmente vão às igrejas e quando nelas entram, ficam distantes.
Voltando ao assunto da égua. Eu não critico o comprador. Até o elogio. Ele entende muito bem de raça de égua. Eu lamento sim é porque na cidade de Belém, até agora, poucos são os que concretamente valorizaram o Órgão da Sé, o maior Cavaille Coll da America Latina. É necessário se divulgar a preciosidade... Nem uma pessoa valoriza o desconhecido.

Os sinos da Sé II



O sino maior da Sé trincou ao ser balanceado para a Missa de Ação de Graças pela vitoria nas urnas como Prefeito Municipal de Belém o dileto amigo Said Xerfan. Espantei-me com o pressagio que depois se concretizou. Xerfan renunciou para candidatar-se governador do Estado na eleição seguinte. Perdeu. Muitos afirmaram que houve fraude, o que acontecia freqüente na contagem “voto a voto”. Eu não sei, só sei que o acontecimento funesto me afetou. O então SPHAN não permitiu que houvesse refundição, pois os sinos perderiam a identidade. Sobre isto eu já escrevi.
 Antes de lançar a campanha, eu pesquisei e muito, sobre sinos, consultei especialistas e até o Senhor Cardeal Dom Eugênio Sales, Arcebispo do Rio de Janeiro. Foi S. Emma. quem me indicou a Fundição Angeli. Fiz descer da torre todos eles, pois alguns tinham os cabeçotes apodrecidos. A descida foi fartamente noticiada e eu guardo cópia do que foi publicado.
O SPHAN por sua vez convocou de Brasília técnico, que ao chegar à Belém, logo no dia seguinte acompanhado do Superintendente regional e do Arcebispo foram à Catedral, Eu os recebi e os introduzi na minha sala mostrando-lhes peças de alfaias, pedindo ao técnico que selecionasse as originais das cópias. O referido técnico se “embananou todo”. Não perdi tempo e logo comecei a falar quando o Arcebispo pediu que eu ouvisse o técnico. Então virei - me a Dom Alberto: Excia., aqui estou nomeado por V. Excia. que neste momento poderá  anular a nomeação. Ele silenciou. Não lhes dei tempo, pois a esta altura  já  me havia certificado  que o  visitante não era técnico em sinos e sim como confessou depois, ser  técnico de soldar cascos de navio. Então eu falei pausadamente: Doutor, as ondas marítimas são muito diferentes das ondas sonoras... Não havendo clima, o encontro foi encerrado e ao saírem ele, o pseudo-técnico, voltou-se, bateu no meu ombro dizendo: Gostei da sua argumentação. Eu os deixei sozinhos... Aproveito o momento para afirmar em “alto e a bom som” que as repartições governamentais estão saturadas de políticos aproveitadores. Os terceirizados contratados não entendem de igrejas, de suas necessidades, de cânones e de liturgia. Tufam o peito arrotando autoridade, ameaçando de prisão como a mim fizeram várias vezes e projetando babilônias... Como prosseguiu a novela? Em uma madrugada, bem tranqüila, a porta central do templo se abriu e os sinos embarcaram diretamente à São Paulo. Viajaram todos embrulhados  nas peças  de fazendas compradas pela Catedral. Lá chegando, foram logo trabalhadas sem  alterações.  Inscrições e datas se conservaram.
Agora para terminar: Uma semana depois do embarque, sem eu esperar vi Dom Alberto e o Superintendente à porta da sala do expediente paroquial. Ao cumprimentar-lhes falou o Arcebispo: “O Dr. Superintendente quer visitar os sinos”. Os sinos á esta altura já haviam embarcado com a ordem do Arcebispo que só colocou uma condição: não lhe criar problemas. Não perdi a calma. Falei forte: O que? Ouvindo o que já ouvira antes continuei: Ora bolas! Eu tenho mais o que fazer. Virei às costas e saí rápido. Não sei dizer qual a reação dos dois.
Á hora do jantar, rumei ao Arcebispado para desculpar-me. Dom Alberto embora tímido, sempre teve uma cabeça privilegiada, falou-me: Você se saiu muito bem. Você não tem porque se desculpar.
    Meu leitor, escrevi este relato para dizer o que pessoas erradas fazem ao ocupar o lugar de competentes. O SPHAN ou o IPHAN como hoje é conhecido poderá ser muito útil ao Brasil e ao universal mundo cultural se entre eles  houvesse um mínimo de sensatez


Os sinos da Sé


A campanha para a refundição dos sinos da Sé, dentre todas, foi a mais agitada. O SPHAN fez de tudo para que ela não acontecesse. Dom Alberto Ramos, o antigo Arcebispo disse-me que o pedido de auxilio, feito ao Banco do Brasil, estava na mesa do diretor geral do banco ou superintendente (não sei ao certo o cargo).
O SPHAN embargou o pedido dizendo que, se os sinos fossem refundidos eles perderiam a identidade. Os argumentos foram tolos e grotescos. Eu então publique: Todos aqueles que desconhecem o sentido do termo identidade, não tem cultura. O delegado da cultura não conhece o termo identidade. Logo, o delegado da cultura não tem cultura.
Prova: ele disse pelo rádio que o refundir sinos, faz perder a identidade. Isto raia pelo absurdo. Então o delegado da cultura bateu e unha. A Unha batida do delegado da cultura foi extraída e nasceu outra. A unha nova do delegado da cultura não é e unha original, logo, a nova unha do delgado da cultura é um absurdo.
O delegado da cultura cortou o cabelo. A lógica do delegado da cultura diz que o novo cabelo do delegado da cultura é um absurdo, porque não é mais o cabelo original.
A lógica do delegado da cultura vai se estendendo. O delegado da cultura nasceu pequeno e tenro. O delegado pequenino foi crescendo, mas o alongamento do delegado da cultura é um absurdo porque ele deixou de ser o original. O original foi restaurado pelo Divino Artista, Deus, nosso Senhor. Na lógica do delegado da cultura, Deus cometeu um absurdo, porque fez crescer o delegado da cultura e não conservou o original para ser colocado num museu.
Conclusão: o Delegado da cultura não é o delgado da cultura, por que não é o original. Que diabo é então o delegado da cultura? Na verdade, nem o diabo sabe o que venha a ser o famigerado delegado da cultura.
O diabo tentou o delegado da cultura, para fazer miséria, mas como delgado da cultura não é o delegado da cultura, porque não é o original, ele, o diabo, deixou de tentar o delegado da cultura, porque o delgado não tem cultura e sem cultura, ele não pode ocupar o cargo de delegado da cultura.
Se o delgado da cultura não tem cultura, por que então ele ocupa o lugar do verdadeiro delegado da cultura? Só resta se conclamar o clero de Belém, os bispos do Estado e o povo cristão a fazer pedido ao Ministro da Cultura para mandar sim, um verdadeiro Delegado que tenha cultura. Afinal de contas, são os sinos que estão em jogo.
Mas deixa isto para lá. Quando um sino trinca, ele perde o timbre, ele se torna um sino morto. Um não sino. Sino morto não funciona. Deixar sino morto em museu não é deixar o sino original. Remendos também desfiguram o original, maculam a verdadeira identidade do sino que deixou de ser original.
“É somente isto que eu acho interessante na disputa sobre os sinos”. Foi o comentário do jornal “A Voz de Nazaré”. O comentário foi fraco, porque nivela os absurdos do delegado da cultura com a sensatez ou o acertado pensar.
Eis o epílogo: os sinos foram refundidos e estão nas torres, convocando os fiéis para o culto. É esta a função dos sinos nas torres das igrejas. Breve relatarei como os sinos da Catedral embarcaram à São Paulo para serem refundidos. O embarque propiciou outro comentário novelesco. Vale ser lido.

O site da Catedral


Catedral de Belém

Acaba de ser projetado o site da Catedral (catedraldebelem.com). É um lindo passeio onde realizações acontecidas desde o início são projetadas. Artistas inúmeros nela trabalharam e gente humilde como trabalhadores braçais, escravos e índios. Eles levantaram paredes de pedra e cal, paredes estas de quase três metros de largura.  A visita leva a quase êxtase, sobretudo quando o visitante considera a fé daqueles que se foram. Este é um autêntico passeio que satisfaz o visitante, mesmo acatólico. A arte é universal e a espiritualidade faz superar toda contingência humana e por isso, não deverá ser profanada.  Parabéns ao antigo Arcebispo D. Orani João Temspesta, que em tempo salvou a casa de Deus. Parabéns à então governadora Ana Júlia Carepa que deu apoio integral à restauração séria. Parabéns ao padre José Gonçalo que soube superar indelicadezas e ignorância de fracos temperamentais, parabéns ao Advaldo pelo grandioso visual chegado a nós e às demais equipes da Sé, pelo zelo inconteste bem visível
Felizmente não foram projetados os vazios criados pela insensatez. Cito o ambulatório para carentes, o gabinete dentário, a biblioteca, o museu, a residência paroquial, com seus equipados kits nets, o segundo refeitório transmudado em aposento do pároco para dificultar a circulação interna do templo. Os destruidores deram a impressão de desconhecer o que venha a ser programa de necessidades, conhecido por acadêmicos iniciantes de engenharia e arquitetura. A necessidade antecede a arte e só depois surge a forma ideal para satisfazer o humano.
Também não vi o antigo quadro de Santa Maria de Belém, que se encontrava no refeitório do Arcebispado, junto a outro muito grande, o da Ceia do Senhor. Lembro-me de que esta primeira relíquia, eu a contra-gosto entreguei ao SPHAN por ordem do então Arcebispo,  o pseudo-herói das demolições. A pretensão de destruir o ossuário e a capela das almas, inaugurados na minha gestão não se concretizou. Praza a Deus que os atuais e futuros líderes da Arquidiocese, nunca mais repitam o infantilismo ou a ingenuidade de entregar a mãos espúrias, o pouco que ainda resta do patrimônio da Arquidiocese de Belém

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Michelangelo











Michelangelo; Auto-retrato


Michelangelo nasceu no dia 6 de março de 1475 em Caprese, Casentino – Itália. Foi o segundo filho entre cinco irmãos. Em 1481 perdeu a mãe, acontecimento que marcou sua personalidade, tanto assim que nas esculturas de Madonas, ele projetava a fisionomia materna envolvida no mistério da morte.
Em 1492 Lourenço, o magnífico, o acolheu em seu palácio onde teve oportunidade de se relacionar como humanistas vários, chegando até a corte dos Médici. Neste seu início, somente dois de seus trabalhos são conservados. A Madona della Scala e A Batalha dos Centauros, temas cristãos e pagãos em dualismo significativo.
Em 1495, depois de estudos de anatomia feitos no mosteiros Del’Spirito, foi hóspede em Roma do Cardeal Riario. Em 1498 Jacopo Galle o procurou á mando do cardeal Lagraulas para dar inicio às obras da Pietá que se encontra na Basílica de São Pedro. Criterioso desde a juventude foi a Carrara escolher o material. Tinha ele 23 anos. O nome “pietá” na arte, se prende ao momento da retirada do Corpo do Senhor, morto na cruz e colocado nos braços da mãe aflita, como aceitação da vontade divina.
A estátua foi esculpida em formato de pirâmide e a Virgem foi projetada em volta de um largo manto, cheio de dobras, conforme tradição gótica, tendo no colo o corpo do Senhor, seu Divino Filho quase tornado uma criança.
Aqueles que reclamaram ser muito jovem a face da mãe, ele respondia; “ a castidade e a pureza não estão sujeitas às leis do tempo”. A mão esquerda da Virgem segura o corpo do Senhor para ressaltar a sua dor.
Michelangelo esculpiu várias outras estátuas “pietá”, mas esta foi a única que ele terminou. Quando estive  em Florença – Itália, visitei outra sua “pietá”, na Igreja de Santa Maria Del Fiore. A virgem parece fazer esforço para receber o corpo de Jesus que lhe está sendo entregue por José de Arimatéia. A fisionomia de José de Arimatéia, projeta o rosto do próprio Michelangelo.
Quanto à pietá de São Pedro, no dia da inauguração, o artista se misturou como o povo que não o conhecia e notou que todos se admiravam com a perfeição do trabalho. Naquela mesma noite, sobre a faixa que estava envolvendo o corpo da Virgem escreveu: “Michelangelo Buonarroti, Fiorentino faciebat”. Na academia de Florença, encontra-se a estátua de Davi quando jovem e em São Pedro in Vincolli – Roma junto á Universidade Gregoriana está a de Moisés. Ao terminar o trabalho desta estátua ele disse: Fala, Moisés”.
Michelangelo foi um gênio. Um superdotado. Os gênios são exceções da natureza. Eles continuam presentes nos trabalhos que deixaram... parecem imortais.

A Temida Realidade



Estas linhas eu as escrevo à propósito do meu primeiro ano de Hospital na Beneficente Portuguesa. O relato aconteceu na década de cinqüenta, gestão Sant’Ana.
Chamado fui para atender doente. O hospital situava-se no antigo Largo da Pólvora, hoje Praça da República. Era uma tarde calorenta, como são as tardes equatoriais de Belém, antes da chuva. Saí à pé, envergando minha batina preta  e de chapéu, conforme uso da época.
Quando a porta se abriu, deparei-me com uma senhora de cor, corpulenta. Ela estava envolvida em um lençol alvíssimo, muito limpo, mas daquele corpo, exalava insuportável odor. Senti-me mal, mas estava ali para sacramentar uma enferma em estado terminal. Ela estava lúcida. Observei o Ritual, sentindo o “ônus”  sacerdotal. O mal-estar continuou, sobretudo às refeições. Lembrava-me do escritor quinhentista, padre Manuel Bernardes ao escrever sobre carne. Relatou o desespero do animal ao pressentir o abate e a morte. A defesa é instintiva. Todo vivente tem instintos.
Agora atenção, meu leitor: o padre não se ordena para si, mas para atender e socorrer enfermos, carentes e necessitados. Disse Jesus: “Os de saúde não necessitam de médico”. O padre é médico de almas. O atendimento do médico não é fácil. Eu que por alguns instantes quase não suportei a exalação, nem me lembrei de que a paciente sentia a decomposição do próprio corpo. A realidade é trágica, temida e inexplicável. A natureza, que generosamente forneceu ao corpo o alimento, parece que, de repente se nega a ele e “dá um basta”. O corpo inconscientemente começa a definhar É o fastio. O Alimento não passa pela garganta. Sem alimento o corpo não sresiste e morre.
A morte é um enigma. Ninguém quer morrer. Todos a temem. A tragicidade aumenta porque ninguém fica esquecido.
Segue a reflexão final. O tempo é rápido, é fugaz. Mergulhados no tempo vive-se como se eterno ele o fosse. No silêncio inevitável desse instante, turbulências poderão acontecer. E elas são de ordem social, econômica, familiar e até espirituais. Narram que o nobre Mazzarino convulsamente se agarrava aos pertences e ás jóias  dizendo que tudo iria deixar. Dom frei Vital, ao escarrar disse;” Foi veneno mesmo”.  E o colega Dirceu agarrado aos pais gritava: “Não quero morrer!” e assim morreu.
Meu leitor, no silêncio inevitável que antecede a morte, o cristão deve entregar-se nas mãos de Deus e com espírito de fé, receberá a graça de bem morrer

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O Padre Diocesano

Reporto-me ao dia do padre, recém celebrado e lembro-me das memórias do meu passado: “A História é a mestra da vida”.

Eis a reflexão sobre o padre diocesano. Ele não teve fundador. Nasceu com a Igreja. Os fundadores determinam específicas espiritualidades. Dom Gregório Varmeling que foi bispo de Nova Friburgo assim falou: “Nós não vivemos da espiritualidade monacal” e depois acrescentou: “o padre diocesano no momento da imposição das mãos e da Oração Consagratória, passa por uma transformação quase ontológica no sentido de projetar o Cristo no mundo e no tempo. Ele assume a missão de salvar a humanidade em todos os momentos, alegres e difíceis, daí repetir São Paulo aos Filipenses: “Mihi vivere Christus” (1,21)

Ao incardinar-se na Igreja Diocesana, tornou-se co-responsável na diocese que o acolheu. O ritual é claro: “uma porção do povo de Deus confiada ao Bispo e ao seu Presbitério”.

Para o Religioso, o celibato é ato supremo de renuncia pessoal. Para o padre diocesano é o sinal mais completo do dom total de si mesmo em favor do povo de Deus. A regra ou lei diocesana é a da caridade apostólica, isto é, o serviço paroquial. Nenhuma ascese a poderá substituir. O padre diocesano é lançado no mundo para fecundá-lo, e fermentá-lo. Reporto-me agora ao inesquecível Dom Mário, quando falava sobre a massa, a massa levedada, sobre o fermento no laicato e na Ação Católica...

Voltando ao início, é preciso frisar que o vínculo diocesano é muito sério. O termo jurídico chama-se incardinação. Nem o bispo tem esse vínculo, pois está a disposição da Santa Sé. Dom Santino Coutinho fora nomeado bispo de São Luís – Maranhão. Antes da posse, transferido fora para bispo do Pará e logo depois nomeado Arcebispo de Belém. Foi o segundo Arcebispo.

Para divagar, cito Bethoven na Missa Solene que parece ter duvidado da missão salvífica do sacerdote. Em seu estro musical repetiu muitas vezes a palavra latina “caro – carne” até terminar decididamente no “factum est” ou “fez-se carne” reportando-se o Cristo Sumo e Eterno Sacerdote.

O padre terá que fazer o que Cristo fez “exinanivit semetipsum” ou “esvaziar-se de si mesmo”.

É preciso restituir-se ao padre diocesano o sentido de sua plenitude ontológica. Acrescento o norte ao epílogo: profunda vida interior a manifestar-se no comportamento sacerdotal, na liturgia, nas pregações com base escriturística e na música. Eu nunca ensaiei um número sem antes o ter executado ao órgão dezenas de vezes para sentir a frase musical do compositor. Nunca me impressionaram as palmas dos ouvintes e sim quando os via lacrimejar. A música reforça o “verbum Dei”.

Agora, o final lembrete. A mística diocesana deverá ser o roteiro certo no caminhar diário.